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MEDITAÇÃO METAFÓRICA I
28 domingo jun 2015
Posted Cícero Almeida, Poesia
in28 domingo jun 2015
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19 sexta-feira jun 2015
Posted Poesia
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Não dizer palavra…
Deixar o silêncio plantar sua nódoa
na cinza dos olhos.
E uma sombra há de vir,
insustentável,
e despojada de dor e remorso e cansaço
trará numa das mãos linho novo,
alfazema;
na outra, conchas de praia deserta,
frutos da estação,
e ainda sem dizer palavra
acenderá os cílios com o sal das águas
de uma outra concha,
essa mão que rasgará silêncios,
tatuando na pele uma palavra gasta.
Wender Montenegro
19 sexta-feira jun 2015
Posted Conto
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Imagem: Saul Landell
Era uma vez homem que sempre existiu, tendo entrado pela tangente na própria vida sem precisar nunca ter nascido. Dizia ele ter a mesma idade do mundo, sobrando para especulatórias teorias que precisassem o inexato e distante momento que em ele se aconteceu. “Somente o tempo me deu autoridades de existir” ria-se, “graduei-me gente desavisado das idades. As memórias dos outros foram os lençóis que me deitei, os sonhos alheios foram os frutos que comi. De mim não sei, o que sei é apenas o que os outros me contaram”. E dessabido do seu próprio nascimento, não lhe sobrava espaço para carregar a própria morte. “Só morre quem nasce e quem não nasce não pode morrer.” Mas não se sentia afortunado por isso, era antes um condenado aos estáticos eternos. Ainda que sua presença atiçasse adormecidas sementes e iluminasse os escuros, nada servia por quase nada sentir. “Planejamos demais a vida e a perdemos entre nossos ensaios. Eu não previ nem planejei e por isso ainda a tenho inteira. E de improviso entre as dores sem saber morrer, mais as perdi do que as ganhei, sobrando-me menos do que o contrário. Pelos vazios que colecionei, descompareci para as tristezas, desapareci para os tormentos do viver. Sou ausente nos compromissos que nos pedem os sofrimentos, mas também as alegrias. Tudo isto porque sempre vivo e nunca morro!” Sofria o pobre homem por nada sofrer. Um dia, apareceu-lhe num copo de cachaça a voz da sua consciência: “o que sabes da felicidade?” Não sabia o que responder. Desatinou em infinitas constatações. Talvez sabendo o que fosse sofrimento, saberia o que é ser feliz, porque sem também saber da felicidade, sabia, de nada saberia da vida. O que adiantava se manter mergulhado mas não poder respirar, falar de boca cheia sem saber gosto? A tristeza é condição para a felicidade, e vice-versa. Uma não caminha sem a outra; são irmãs que nos visitam com regularidade, em que a primeira entra quando a segunda se retira. E não lhe sobrando outras certezas, implorou por um milagre. Seu milagre era sua morte. E a vida assim lhe concedeu. Meses depois morreu de amor, para renascer num amanhã qualquer mais homem e mais vivo por aí. Descobriu que por ser mortal cabem-nos infinitas vidas, com seus doces e seus amargos. Melhor do que uma inteira sem sal.
Guilherme Antunes
18 quinta-feira jun 2015
Posted Poesia
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17 quarta-feira jun 2015
Posted Cícero Almeida, Poesia
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ficarei no que se guarda.
seja o que for que guarde o poema.
um olhar além,
um sorriso aberto,
meus braços acenando
adeuses discretos.
meus passos tortos.
o estranhamento.
que se guarde o sentido.
sou o homem
dos pés sujos de tempo,
sem anjos de guarda,
nem cães…
livre nas ruas, na noite,
na vida, na chuva,
no meio do caos.
em silêncio eu sigo,
algum horizonte.
o poema é meu amém a todas as coisas.
Cícero Almeida
17 quarta-feira jun 2015
Posted Poesia
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Sobre esse vazio no peito
Sobre o que cala
sobre o sonho desfeito
sobre o nó e o que é pó
Sobre a nossa sala.
Sobre o que fomos e hoje é fome
Sobre o desejo que hoje é saudade
Sobre o amanhã que eu sonho distante
Sobre esta manhã que é instante
Sobre essa mesa que nada oferece
sobre esse beijo que não umedece
sobre o que vejo e não me apetece
Sobre o que se guarda e o que se esquece.
Sobre os ventos que trazem notícias
De vidas
Que acontecem
Enquanto esta
Se encontra vazia.
E enquanto eu olhava
Anoitecia.
Djania Beserra
16 terça-feira jun 2015
Posted Prosa poética
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[…] as cartas são como lacrados silêncios grávidos de palavras e carregados de mundo. Eu fazia futuros quando escrevia, e ao recebê-las dava luz ao passado do outro em minhas mãos. Sentia a responsabilidade de um profeta, alfabetizado para colocar nos papéis as andorinhas. E é certamente um ritual pagão antigo, este de respeitarmos o tempo; a arte do refinamento das promessas e das esperanças.
Coisa que perdemos atualmente.
Guilherme Antunes
15 segunda-feira jun 2015
Posted Poesia
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15 segunda-feira jun 2015
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Embalsa-me, terna fluidez de tua voz
Lançando à lua um vil surdino suspiro
Se as palavras forem de mim então algoz
Banhar-te-á leve no sangue qual as atiro
Nascimento perjura, firme pele atroz
Jaz amálgama da treva e da luz, retiro
Brasão inflama, frígido semblante veroz
Bebendo a morte nestes beijos quais prefiro
Entregar-me-ei como qualquer corpo vencido
Pedindo somente farto descanso perdido
Temendo ainda novos mares da ventura
Por amor não foi o que em meu peito nu cravaras,
Terníssimo anjo desta minha amargura?
Voas no livre céu em carnes febris da tara
Ítalo Oliveira
15 segunda-feira jun 2015
Posted Poesia
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